No Rio de Janeiro, onde o samba é parte da alma da cidade, o Samba da Moenda Velha se destaca como um reduto autêntico da música de raiz. Diferente dos eventos mais comerciais, essa roda traz a essência do samba acústico, como nas antigas festas de quintal. A proposta é simples e poderosa: reunir músicos, amigos e amantes do samba em torno da música, da memória e da ancestralidade.
O termo “moenda velha” evoca imagens de engenhos antigos, de resistência e do trabalho coletivo, elementos que dialogam com a proposta do evento. Aqui, o samba não é apenas entretenimento: é uma vivência, uma reafirmação de identidade, um gesto político de celebração da cultura preta e das tradições afro-brasileiras. Cada batida do pandeiro carrega história, e cada canto ecoa resistência.
O ambiente é acústico, sem interferência de equipamentos pesados ou estruturas grandiosas. É no chão batido, com instrumentos de corda e percussão, que a roda acontece. O público participa, canta junto, dança descalço. O Samba da Moenda Velha é, antes de tudo, um espaço de pertencimento.
A força da cultura preta em evidência
O Samba da Moenda Velha não é apenas uma roda musical: é um espaço de valorização da cultura preta em sua forma mais viva. Ali, são reverenciados os grandes nomes do passado e celebrados os talentos do presente. Os músicos da roda muitas vezes trazem repertórios de mestres como Dona Ivone Lara, Cartola, Nelson Cavaquinho e João da Baiana, entrelaçando tradição e atualidade com naturalidade.
A presença de artistas pretos em destaque é um ponto de honra do projeto. Não apenas músicos, mas também empreendedores, artesãos e produtores culturais fazem parte do movimento que se forma em torno da roda. É comum encontrar feirinhas com produtos artesanais, comidas típicas e exposições que reforçam o protagonismo negro e a importância de consumir da própria comunidade.
Além disso, o evento propõe reflexões importantes sobre identidade, pertencimento e memória coletiva. Cada edição do Samba da Moenda Velha é também um ato de resistência contra o apagamento cultural. A arte, ali, cumpre sua função de educar, emocionar e conectar pessoas a histórias que muitas vezes foram silenciadas.
Um espaço aberto e acolhedor para todos
Apesar de ter suas raízes fincadas na cultura preta, o Samba da Moenda Velha se constrói como um ambiente plural, democrático e afetivo. Não há barreiras: qualquer pessoa que respeite a proposta e queira somar com o espírito da roda é bem-vinda. Crianças, idosos, jovens, moradores da comunidade ou visitantes de fora: todos são convidados a entrar no ritmo.
O clima do evento é de comunidade. As rodas acontecem em praças, centros culturais e espaços abertos, sempre com uma vibe leve e calorosa. Não é raro ver rodas improvisadas, onde músicos iniciam um canto e logo são acompanhados por outros que chegam com violão, cavaco ou tantã. O improviso é parte da magia da roda, tornando cada edição única e especial.
Essa abertura é um dos pilares que mantém o Samba da Moenda Velha vivo e pulsante. Ele não é um espetáculo engessado, mas uma construção coletiva, onde cada pessoa contribui com sua energia, sua escuta e seu corpo presente. É essa atmosfera de verdade e generosidade que faz com que o projeto cresça a cada encontro.
Salvaguarda do samba de raiz carioca
O samba carioca, nascido nos quintais, nas cozinhas e nas festas de terreiro, encontra no Samba da Moenda Velha um verdadeiro santuário. Em um tempo onde o mercado muitas vezes exige velocidade e superficialidade, o evento segue na contramão: prioriza o tempo da música, o silêncio entre os versos e a escuta atenta. A roda é feita para durar horas, como antigamente, respeitando o tempo do samba.
Mais do que manter a tradição, o projeto ajuda a formar novas gerações de sambistas. Jovens músicos encontram ali um espaço seguro para aprender, tocar e se conectar com mestres mais experientes. Essa troca intergeracional fortalece o futuro do samba e assegura que ele não perca sua essência ao longo dos anos.
O Samba da Moenda Velha não é moda passageira. É raiz. É herança. É continuidade de uma história que começou há muito tempo, com batuques de resistência e cantos de esperança. Participar dessa roda é mergulhar em um legado vivo, que segue sendo construído a cada palmeado de mão, a cada coro que se levanta em uníssono.
Um convite para viver o samba de verdade
Se você busca mais do que um evento, se deseja se reconectar com o verdadeiro espírito do samba, o Samba da Moenda Velha é o lugar certo. Ele não apenas oferece música, mas uma experiência sensorial, afetiva e histórica. Ao participar dessa roda, você não é espectador: é parte da roda, parte da história, parte da cultura que resiste.
O projeto mostra que ainda há muito a ser celebrado, ensinado e vivido quando falamos da cultura preta e do samba de raiz no Brasil. É um grito suave, porém firme, de que a tradição não será esquecida. Pelo contrário: ela será compartilhada, cantada e dançada por todos os cantos do Rio de Janeiro e além.
Seja um apoiador EU QUERO
Acesse aqui Informações
Canal do WhatsApp
SERVIÇO
Samba da moenda velha
Data: 14/06/2025
Rua Tia Ciata, 120
Gamboa – Rio de Janeiro – RJ
Horário: 16 horas

Andre Borges, historiador e pesquisador sobre o Rio de Janeiro. Eu sempre gostei da história do Rio de Janeiro, queria contribuir para a cidade, mas não sabia como, queria uma maneira lúdica de contar a história desta cidade e informar, aí veio a ideia do Blog Giro 0800.